quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

'Queda de braço'

Sampaoli deixa Santos em meio à divergência com diretoria do clube


Mauricio de Souza/AE
Desafetos, Jorge Sampaoli e José Carlos Peres travam disputa relacionada à multa milionária de rescisão de contrato do treinador com o clube e pela liberação da comissão técnica
O técnico Jorge Sampaoli negou que tenha pedido demissão do Santos. A sua saída do cargo foi anunciada pelo clube na noite de terça-feira (10), por meio de nota publicada no site da agremiação. O Santos informou que Sampaoli comunicou a demissão após reunião no dia anterior e que "o caso foi entregue aos departamentos jurídico e de recursos humanos do clube".
A assessoria de imprensa do treinador sustenta que o argentino não pediu oficialmente o desligamento do clube e que ainda aguardava por um retorno a respeito de suas exigências, após pedido do presidente santista, José Carlos Peres, de se reunir com membros do comitê gestor para avaliá-las.
Apesar disso, no fim da tarde desta quarta (11), Sampaoli divulgou uma carta de despedida. "O próximo ano será muito difícil para o Santos. Jogará o Paulista, o Brasileirão, a Copa do Brasil e a Libertadores. Penso, com chance de me equivocar, que algumas circunstâncias estruturais não me permitiriam sentir com comodidade", escreveu.
Não obstante o tom amistoso do documento, que menciona inclusive a possibilidade de um reencontro no futuro, a queda de braço entre Santos e Sampaoli parece estar apenas no início. O clube exige do treinador pagamento de US$ 2,5 milhões (R$ 10,5 milhões) pela rescisão do contrato, que se encerraria em dezembro de 2020.
Além disso, já avisou que cobrará mais R$ 3 milhões pela liberação de quatro membros da comissão técnica indicados pelo argentino. Um deles, o auxiliar Jorge Desio, fazia parte dos planos para a próxima temporada.
O acordo, porém, é considerado improvável. Sampaoli e Desio se conheceram em 1994 no Renato Cesarini, clube de Rosário conhecido pela formação de atletas e técnicos. No Santos, Desio inclusive já comandou treinos e assumiu o lugar do amigo no banco de reservas, enquanto o técnico cumpria suspensão.
O desencontro entre as partes levou o caso à Justiça, onde a disputa pela narrativa sobre o profissional ter pedido demissão ou sido demitido deve ter influência para o pagamento ou não da multa.
Sampaoli, que cobra quatro meses de FGTS não depositados, já conta com o auxílio de um advogado brasileiro, enquanto o Santos acredita estar bem coberto juridicamente para provar que o antigo comandante solicitou desligamento. Todos os membros do departamento jurídico foram orientados a não se pronunciar sobre o caso.
Independentemente do desencontro de informações, a saída foi selada. Apesar da boa campanha do Santos na temporada, semifinalista do Campeonato Paulista e vice do Campeonato Brasileiro, o argentino e Peres não cultivam boa relação.
Sampaoli e sua comissão custaram cerca de R$ 20 milhões aos cofres santistas por uma temporada. Somente o treinador recebeu aproximadamente US$ 2,3 milhões de dólares líquidos no período (R$ 9,6 milhões).
O técnico criou uma relação de proximidade com a cidade de Santos, mas externou publicamente incômodo pelo que considera falta de planejamento e desorganização de Peres e a sua cúpula.
Na reunião da segunda-feira, que durou quatro horas, o argentino apresentou exigências para continuar, a principal delas um valor de R$ 100 milhões destinado a contratações de jogadores para brigar pela Libertadores.
NÚMEROS
Sampaoli comandou o Santos em 64 jogos (sem contar amistosos) na temporada de 2019, conquistando 35 vitórias, 14 empates e 15 derrotas, um aproveitamento de 61% dos pontos disputados. Além disso, o treinador levou o Peixe à sua melhor campanha no Brasileirão com 20 times, conquistando 74 pontos nesta edição, o que levou o clube da Vila Belmiro à vice-liderança da competição.

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